Não se contempla a gravura: a ela se reage, ela nos traz imagens de despertar (Gaston Bachelard).
Essa obra trata da fé e de suas manifestações no enfoque de sua propagação, da qual a gravura foi um dos principais meios. O início da produção de imagens sacras, os populares “santinhos”, data de fins do século XIV, quando a xilogravura se disseminou na Europa possibilitada pela difusão do papel, criando uma tradição que chega até nossos dias.
O título “23/4/2025” sugere a permanência de uma manifestação que se renova através do tempo e sua relação íntima com os processos gráficos: a impressão de santinhos no início em xilogravura, depois em tipografia, em litografia e atualmente em offset. Os santinhos, assim como os rótulos e as cartas de baralhos formam importantes referências da cultura visual, a gravura como base da indústria gráfica segundo a lógica de produção e mercado: maior quantidade, menor preço. Quando a gravura se torna objeto de arte, as edições passam a ter quantidades limitadas, com cada cópia numerada e assinada à lápis pelo artista, uma garantia de artisticidade elevando assim o valor de venda.
Essa obra se realiza num ato performático, na tensão da arte entre a tradição cultural e a lógica de mercado artístico. Nela, os “santinhos” são gravuras originais numeradas e assinadas em edição limitada, mas são distribuídas gratuitamente como os santinhos que encontramos nas igrejas – a distribuição como agradecimento por uma graça alcançada. Ao colocar a impressão da oração dentro do oratório e não somente a imagem do santo, se enfatiza o recurso da repetição e da palavra, como na oratória, como meio de reforçar a memória – da fé e do ato gráfico – reproduzir e distribuir, reforçar e propagar. Tensiona também as questões do imaginário e o lugar da arte nas engrenagens da espiritualidade humana.